AA Juventude

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

História do Futsal Feminino no Brasil

O Futebol Feminino é praticado por mulheres desde muito tempo, entre o final da década de 1910 e início dos anos 20 alcançara grande sucesso na Europa. Anos depois em 1940, no Brasil, a edição de abril da revista Educação Física informava a realização de uma “interessante partida de futebol entre senhoritas” no Rio de Janeiro, que “constituiu um espetáculo de grande sucesso, causando assim sensação em nosso mundo desportivo”.

De imediato, a novidade representada pela aparição e desenvolvimento dessas equipes despertou amor e ódios no eixo Rio – São Paulo. Porém, alguns zelosos desportistas recebiam com estranheza as notícias que chegavam dos subúrbios cariocas. Tanta estranheza que um deles, um certo José Fuzeira , não relutou em escrever ao presidente Getúlio Vargas para “solicitar a clarividente atenção de V. Ex. para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabafar em cima da juventude feminina do Brasil” (FRANZINI, 2005). E explicava:

[Venho] Solicitar a clarividente atenção de V. Ex. para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, Senhor Presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte suas funções orgânicas, devido à natureza que dispoz a ser mãe...Ao que dizem os jornais, no Rio, já estão formados , nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão constituindo-se outros.

E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que, em todo o Brasil, estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja: 200 núcleos destroçadores da saúde de 2.200 futuras mães que, além do mais, ficarão presas de uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes.

(José Fuzeira, em carta datada de 25/04/1940 e repercutida pela imprensa) (TEIXEIRA JÚNIOR, 2006).

Da presidência da República, a carta foi encaminhada à Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde que por sua vez a repassou à sua Subdivisão de Medicina Especializada, onde recebeu não só o parecer da “voz da ciência” como todo o seu apoio na cruzada contra as mulheres futebolistas (FRANZINI, 2005). Em abril de 1941, surge o Decreto-Lei 3.199 e seu artigo 54 onde afirmava que “as mulheres não se permitiria a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país” (FRANZINI, 2005).

Proibia a mulher de praticar alguns esportes tais como: lutas, pólo, pólo aquático, rugby, halterofilismo, baseball, futebol, futebol de salão e futebol de praia (TEIXEIRA JÚNIOR, 2006). Deixava a critério do CND a definição de quais esportes elas poderiam praticar. E havia uma série de esportes “recomendáveis”, como já mostrava o citado laudo da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde: tênis, voleibol, críquete, natação e ciclismo (FRANZINI, 2005).

Teixeira Júnior (2006) cita que o decreto foi revogado em 1979 pelo CND, portanto 38 anos após sua proibição. Já Franzini (2005), afirma que a proibição só veio a ser revogada na década de 1980, e se fez acompanhar da criação de departamentos de futebol feminino em vários clubes do país. O ano de 1982 passa a ser o marco de uma nova era para o futebol feminino , quando começam a surgir equipes de futebol, sendo que a carioca Radar Futebol Clube, foi a que mais se notabilizou, revelando grandes jogadoras e desmistificando o fato de que futebol era só pra “macho” (TEIXEIRA JÚNIOR, 2006).

Em 08/01/83 o Conselho Nacional de Desportos (CND), liberou a prática do Futebol de Salão para as mulheres. A partir dessa data os campeonatos começaram a surgir em vários estados, no entanto nenhum sendo oficial e reconhecido pela CBFS. Antes disso alguns estados já faziam seus campeonatos locais e metropolitanos (SANCHES e BORIM, 2006). A prática do Futebol de Salão Feminino foi autorizada pela Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA) em 23 de abril de 1983 (TEIXEIRA JÚNIOR, 2006). O primeiro campeonato oficializado pela CBFS foi a I Taça Brasil de Clubes, realizada em Mairinque-SP em janeiro de 1992 com a participação de 10 equipes indicadas por suas federações, já que por não haver campeonatos nacionais a maioria das federações não organizavam campeonatos estaduais. Os estaduais começaram a ser organizados a partir de 1992 e os campeões de cada Estado garantiriam vaga a Taça Brasil do ano seguinte (SANCHES e BORIM, 2006).

A hegemonia do Futsal Feminino a partir de 1995 passou a ser de São Paulo com a equipe da Marvel de Santos e depois com a Associação Sabesp de São Paulo. Os outros estados cresciam, melhorando o nível tático de suas equipes. A partir de 2003 a hegemonia em nível nacional passou a ser do Rio Grande do Sul com a equipe do Chimarrão de Estância Velha. Em 2005 surgem boas equipes em Santa Catarina culminando com o título brasileiro do Kinderman de Caçador em 2005 e 2006 (SANCHES E BORIM, 2005).

O processo de renovação teve seu início em São Paulo que foi o estado que oficializou os primeiros campeonatos de base. Outros estados como Paraná e Santa Catarina iniciavam o processo de renovação com a criação de competições para as categorias de base, ocorrendo um nivelamento técnico nos campeonatos e maior interesse pela prática do Futsal Feminino (SANCHES E BORIM, 2005).

Surge então a I Taça Brasil de Clubes Sub-20 em 2003. O sucesso foi imediato e inspirou a criação da I Taça Brasil de Clubes Sub-15 em 2004. A única categoria que ainda não tinha seu campeonato brasileiro era a Sub-17 que foi realizado em outubro de 2005 (SANCHES e BORIM, 2005). Outro campeonato importante que foi acrescentado a categoria feminino a partir de 2002 foi o Campeonato Brasileiro de Seleções a ser realizado nos anos pares (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO, 2006).

A CBFS inovou e criou o Departamento Feminino dirigido por Inês dos Santos de São Paulo de 2001 a 2004, e a partir de 2003 criou um quadro de arbitragem totalmente feminino que vem atuando em todos os campeonatos da categoria (SANCHES e BORIM, 2006). Essas decisões foram importantes para o crescimento e ajudaram a impulsionar o Futsal Feminino em todo Brasil. Em 2005 o departamento feminino da CBFS passou a ser dirigido por Astrogildo Piedade do Pará. Outra grande conquista do Futsal Feminino foi a criação da I Liga Feminina de Futsal que teve a participação de 10 equipes divididas em 3 grupos na sua 1° edição (SANCHES e BORIM, 2005).

Com a experiência de quem comanda uma Liga Futsal masculina com sucesso absoluto, a CBFS levou sua estrutura de trabalho para o feminino. A primeira experiência mostrou que a aposta foi acertada. Dez equipes participaram do campeonato em 2005 e a resposta foi a melhor possível. Os jogos foram de ótimo nível técnico, as atletas mostram habilidade e a torcida compareceu aos ginásios (LIGA FUTSAL, 2006).

Outro passo importante para o Futsal Feminino foi a convocação da 1° Seleção Brasileira de Futsal para o Desafio Internacional contra o Paraguai. A partir dessa 1° convocação, a Seleção Brasileira foi convocada novamente em 2005 para amistosos com a Espanha, considerada também como no masculino, uma das melhores seleções do mundo. Após os amistosos a Seleção Brasileira disputou o I Sul Americano em Barueri/SP, com participação do Paraguai, Uruguai, Argentina, Peru e Equador onde o Brasil sagrou-se campeão da competição ( SANCHES e BORIM, 2005).

O investimento no Futsal Feminino é a tendência de todas as Federações Internacionais a partir de agora. Como a modalidade luta para fazer parte do programa olímpico, o fortalecimento da categoria é primordial (LIGA FUTSAL, 2006). A realidade do Futsal Feminino no Brasil ver-se-á nas novas estruturas de trabalho, desde a contratação de profissionais da área, um treinador capacitado, preparadores físicos, treinadores de goleiras, fisiologistas, médicos, tudo isso porque as competições estavam exigindo cada vez mais deste suporte, para que as equipes conseguissem resultado positivo nas competições, e não mais uma mera participação de seu clube ou de seu estado (TORRES, 2006).

No Brasil a presença feminina dentro das quatro linhas ainda busca as suas afirmações, assim como fora das quadras a mulheres também buscam seus espaços como treinadoras, preparadoras físicas e outras atividades ligadas ao futsal feminino. Percebe-se que as mulheres estão cada vez mais ganhando esse espaço, Maria Cristina Oliveira é técnica da Associação Sabesp e da Seleção Paulista de futsal feminino, ela é a técnica que mais vezes conquistou títulos nacionais em categoria adulto com 5 títulos. Além dela a Associação Sabesp possue também duas mulheres no comando da preparação física da equipe são elas Karin Midori Uehara e Mabel Martins Mansano.

Outras equipes também contam com mulheres no comando é o caso da Unopar/Londrina/Grêmio Londrinense/PR com Vanda Cristina Sanches na equipe adulta e Jayne Maria Borim nas categorias de base da mesma equipe. A Unesc/SC conta com Sabrina Cassol, na preparação fisica das meninas e a Associação Atlética Hidráulica Brasil/GO tem Daniela de Lima Carvalho como auxiliar técnica e preparadora física. A Associação Maringá também possue Shirley Terezinha Antunes na preparação física da equipe. A Sumov Atlético Clube tem a preparadora física Geórgia Tath Lima de Oliveira.

Entre preconceitos, dúvidas, credibilidade, o futsal feminino no Brasil conseguiu vencer barreiras importantes na sociedade, e hoje cada vez mais praticantes estão a procura de escolinhas de futsal e clubes para jogar, e mais, algumas equipes que disputam a Liga Nacional oferecem as atletas além de salários, alojamentos, alimentação e um fator primordial hoje em dia, a universidade (TORRES, 2006).

Por www.futsalbrasil.com.br

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